Agenda Municipal / Conferências Encontros Outono do Museu Bernardino Machado 2024 - Ciência, Técnica e Política na Ditadura (1926 – 1974)

Encontros Outono do Museu Bernardino Machado 2024 - Ciência, Técnica e Política na Ditadura (1926 – 1974)
29 e 30 Nov
Fundação Cupertino Miranda | Auditório


Sexta 29 | Das 09h30 às 12h30 e das 14h30 às 18h30 

Sábado 30 | Das 10h00 às 13h00

Entrada gratuita | Inscrição obrigatória até dia 27 de novembro | Público geral: Através de formulário próprio | Docentes: Através da plataforma do Centro de Formação Associação de Escolas Vila Nova de Famalicão | Programa completo em: www.bernardinomachado.org

Com o 28 de Maio de 1926, inicia-se, ostensivamente, um processo reactivo e regressivo quanto à correspondência entre ciência e democracia (que lentamente começara a surgir no após-Guerra) perante os graves problemas com que esta foi confrontada e não resolvia (a não ser recorrendo à violência policial e aos impostos): as subsistências, o desemprego, a miséria e a mendicidade, as greves e as agitações populares, a crescente dissociação entre os governos e a Nação e o descrédito das instituições representativas ditas da “vontade popular” (eleições, partidos, parlamento). Todavia, apesar da mudança de regime, era inegável o progresso científico.
 
A Ditadura não o podia negar. Mas podia “neutralizar” as suas implicações sociopolíticas, detendo-se e focando-se apenas na ciência aplicada ou técnica. E, por isso mesmo, desde o 28 de Maio, os seus corifeus e sequazes se afadigaram em busca de “competências” ou técnicos (aparentemente “apolíticos”, porque a sua atividade começava e esgotava-se no exercício credenciado da função); por isso, a cooptação de técnicos, sobretudo para os quadros superiores da ditadura, será uma constante. O regime procura--e consegue--dissociar, publicamente, a ciência da politica, exonerando e castigando, exemplarmente, alguns distintos cientistas que, alegadamente, a tentavam politizar (como aqueles que foram afastados pelo decreto Decreto-Lei nº 25. 317 de 1935). Assim tiveram de abandonar a Universidade--e demandar o exílio--vários cientistas que concebiam a ciência muito mais do que uma ancila do progresso material: o método mais capaz de fomentar o self-government, a demopedia e o solidarismo. Os que por cá ficaram ou seguiram a recomendações do Cardeal Cerejeira exaradas na sua obra A Igreja e o Pensamento Contemporâneo (1924)--e quem o não ouviu pagou um alto preço pela sua discordância (como Geraldino Brites)--ou se refugiaram nos seus laboratórios, praticando e produzindo a “ciência normal” (como dirá Thomas Kuhn) a que deram algumas achegas significativas (como Celestino da Costa)--ao abrigo, inclusive de instituições de iniciativa republicana de que a Ditadura se aproveitou e se serviu (como a Junta de Educação Nacional, 1929)--ou, deixando-se estar no regime, procuraram miná-lo “por dentro”, por uma “revolução das consciências”--estrategicamente, “tolerada” pelo regime--através de expedientes diversos--como revistas de divulgação cultural (por exemplo a Seara Nova, onde era dado especial relevo aos progresso cientifico, que se ia fazendo lá fora, sobretudo nos países democráticos) ou pela divulgação das ciências  (de que é exemplo a notável biblioteca “Cosmos”). Em qualquer dos casos, a ciência foi “asseptizada” da politica pela Ditadura que, por um lado, conseguiu acantoná-la numa prestigiada e “exilada” (dentro de portas) especialização por ela tutelada (com recíprocas cumplicidades e benefícios das partes envolvidas) e, por outro, retirou a seus potenciais aprendizes universitários (e não só!), o exercício das virtualidades emancipatórias da sua atividade (que, na melhor das hipóteses, se insistiam em sê-lo, publicamente, se ficaram por excelentes técnicos).


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