A recuperação de um tanque de grandes dimensões na Etar de Agra, no Rio Ave, e a sua transformação numa Fito Etar – isto é, uma espécie de ilha flutuante em cortiça onde crescem plantas que ao se desenvolverem absorvem uma quantidade muito grande de nutrientes poluentes, permitindo a reutilização das águas residuais na agricultura – é uma das ações mais inovadoras do projeto “Life Pateiras - Natural Adapt 4 Rural Areas”, que acaba de ser aprovado ao programa Life da União Europeia, dedicado ao Ambiente e Ação Climática.
A candidatura apresentada pelo município de Vila Nova de Famalicão em parceria com as Águas do Norte foi um dos cerca de 15 projetos europeus aprovados para as alterações climáticas. Com um custo elegível de 1,8 milhão de euros, o projeto viu aprovado um apoio na ordem de 1 milhão de euros, visando desenvolver e testar soluções de base local para a minimização das alterações climáticas tendo por alvo o território da Paisagem Protegida Local das Pateiras do Ave, situado na freguesia de Fradelos e estendendo-se até às freguesias vizinhas de Ribeirão e Vilarinho das Cambas. O projeto será implementado entre 1 de janeiro de 2021 e 31 de dezembro de 2025.
A criação de uma Fito Etar é, de resto, a grande inovação da candidatura, tratando-se de um projeto-piloto, único na sua dimensão a ser implementado em Portugal. De acordo com os responsáveis pelo projeto “através deste sistema vai ser possível tratar cerca de 5% ou 6% do efluente da Etar de Agra, que é uma das maiores deste género no país, sem a utilização de nenhum tipo de energia, nem químicos, de uma forma totalmente natural, através das plantas certas e das bactérias existentes no tanque, que vão fazer uma purificação da água, que permitirá a sua utilização para rega”.
O carater inovador da medida reflete-se no investimento, sendo que esta ação representa cerca de 45% do orçamento do projeto.
Para além da criação de uma Fito Etar, o projeto apresentado pelo município de Famalicão destaca-se pelas soluções apresentadas baseadas no ecossistema, isto é, na replicação e aproveitamentos dos “serviços” que a natureza providencia naturalmente.
Assim, outra das ações previstas é a recuperação de habitats naturais que têm a capacidade de reter a água e infiltrá-la nos lençóis freáticos, evitando assim o efeito das cheias a montante e aumentando a quantidade de água nos lençóis para utilização durante o verão, em períodos de seca. Esta ação diz essencialmente respeito à recuperação de dois ecossistemas, um na Ribeira de Fradelos e outro nas Charcas / Pateiras.
Destaque ainda para ação da gestão da água que prevê a recuperação dos sistemas de rega tradicionais, nomeadamente levadas, poças e tanques que antigamente seguravam a água em pontos altos e depois a distribuíam no verão, sem custos energéticos. “Esses sistemas que têm sido abandonados tinham não só a função de regar, mas da própria gestão da água, evitando cheias e permitindo, por exemplo, que os bombeiros pudessem abastecer-se de água no combate aos fogos”, como explica um dos responsáveis do projeto. Esta ação consiste então na prática em recuperar um sistema tradicional que está abandonado e criar um novo à dimensão dos dias de hoje, mas com a tecnologia e com a lógica tradicionais.
Para o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, a aprovação desta candidatura “é uma excelente notícia para o município que vê assim apoiada a sua ambição de contribuir para um futuro mais sustentável e amigo do planeta”. “Uma das nossas principais preocupações politicas tem a ver com proteção do meio ambiente e a redução da pegada ecológica, salvaguardando o planeta para as novas gerações e é precisamente aqui que se insere este novo projeto. A biodiversidade e os ecossistemas podem ajudar-nos a atenuar os efeitos das alterações e é aí que queremos chegar através de algumas ações inovadoras a implementar no nosso território, trabalhando com a natureza tem múltiplas vantagens também no que respeita à preservação do clima” explica o autarca.
Com a implementação destas ações, prevê-se que o projeto contribua para os objetivos climáticos, nomeadamente no que diz respeito a um melhor desempenho ambiental e climático pela redução de resíduos, maior resiliência a inundações, melhoria da qualidade das águas residuais para reutilizações económicas e humanas.
Refira-se que em regiões propensas a secas, como é o território português, as alterações climáticas incidem sobre a gestão da água e o seu impacto na qualidade de vida das sociedades e das atividades económicas. O Município de Famalicão e as Águas do Norte têm responsabilidades dentro da gestão da água pública na Bacia Hidrográfica da Ribeira de Fradelos, que é a área do projeto.