Bernardino Machado – que foi presidente da República Portuguesa por duas vezes e uma das principais figuras da I República – viveu os seus últimos anos de vida angustiado sobre o que aconteceria ao seu legado quando partisse. E chegou mesmo a falar com o seu neto Júlio Machado Vaz, sobre qual o destino que seria dado “aos seus papeis”. O episódio foi recordado esta quinta-feira, 15 de dezembro, pela neta de Bernardino Machado e prima de Júlio Machado Vaz, Elzira Machado Rosa, durante as comemorações dos 15 anos do Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão.
Numa intervenção emotiva, repleta de recordações de vários momentos da vida do seu avô e das motivações que levaram à criação do Museu, Elzira Machado Rosa, enalteceu o papel de Júlio Machado Vaz, como um dos grandes impulsionadores da “concretização do sonho”. Por outro lado, “a câmara municipal tem correspondido exatamente à personalidade do meu avô e àquilo que ele gostaria que fosse feito com o seu espólio”, realçou, salientando que “o sonho era dele mas que foi descendendo até aos filhos, netos e bisnetos e o sonho transformou-se em realidade”.
Os quinze anos do Museu Bernardino Machado ficaram, de resto, marcados por dois grandes momentos: a atribuição do nome de Júlio Machado Vaz à sala de conferências e exposições temporárias do Museu, enquanto mentor, impulsionador e principal doador do espólio e a homenagem a Elzira Dantas Machado com a atribuição do seu nome à praceta contígua ao Museu, entretanto requalificada.
Sobre a sua avó, Elzira Machado Rosa lembrou o papel de grande relevância que teve na sociedade portuguesa e na defesa dos direitos das mulheres, numa “época em que não era expectável que uma senhora ocupasse um lugar na vida pública”. E acrescenta: “Havia um certo receio, mesmo na família, em assumir que ela tinha tido um papel público, o que não se usava, não era costume”.
Par além de Elzira Machado Rosa, a sessão contou com a presença de várias dezenas de familiares de Bernardino Machado e Elzira Dantas Machado. Entre os presentes estava também Júlio Guilherme Ferreira Machado Vaz, filho de Júlio Machado Vaz e bisneto de Bernardino Machado, que se mostrou “muito satisfeito pelo trabalho desenvolvido pelo museu, que corresponde totalmente àquilo que foi idealizado”.
Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal, Paulo Cunha, mostrou-se orgulhoso com a criação de um “museu que honra e dignifica Bernardino Machado”, mas salientou a vontade do município em ir mais longe. “Temos a ambição de que o museu não se limite a ser um depósito onde se guardam de forma cautelosa esse acervo e memórias, mas que se vá mais longe e se produza atividade e, é por isso, que temos concebido e publicado muitas obras, conferências, colóquios que nos permitem continuar a construir conhecimento”.
Entretanto, coube a Artur Sá da Costa, representante da Comissão Instaladora do Museu, recordar os passos dados na salvaguarda e valorização da memória de Bernardino Machado, em 2001, no Palacete Barão da Trovisqueira, espaço nobre da cidade.
BERNARDINO MACHADO
Bernardino Machado nasceu no Rio de Janeiro a 28 de Março de 1851 e foi o terceiro e o oitavo presidente eleito da República Portuguesa. Foi presidente da República Portuguesa por duas vezes: primeiro, de 6 de Agosto de 1915 até 5 de Dezembro de 1917, quando Sidónio Pais, à frente de uma junta militar, dissolve o Congresso e o destitui, obrigando-o a abandonar o país; mais tarde, em 1925, volta à presidência da República para, um ano depois, voltar a ser destituído pela revolução militar de 28 de Maio de 1926, que instituirá a Ditadura Militar e abrirá caminho à instauração do Estado Novo.
Vive os seus primeiros anos no Brasil, iniciando os estudos no Liceu de Laranjeiras em 1859. Em 1860, ainda Bernardino Machado não tinha completado 9 anos, a família regressa a Portugal, fixando-se primeiro em Joane e depois em Vila Nova de Famalicão.
Filho de pai português, António Luís Machado Guimarães (a quem viria a ser concedido, por decreto régio, o título de 1.º Barão de Joane em 1870), Bernardino Machado escolheu ser famalicense e elegeu Vila Nova de Famalicão como sua terra, vivendo cá vários anos e regressando sempre que possível.